Sempre Zen: Será?
O testemunho de hoje é o da Patrícia, criadora do projecto Nem Sempre Zen.
A Patrícia tem 42 anos, é Mestre de Psicologia Clínica e trabalha há algum tempo na área de Finanças e Contabilidade.
Adora meditar, ler e praticar yoga. Realiza voluntariado numa Casa de Acolhimento para crianças e jovens, e hoje é com ela que me inspiro.
Um dia decides mudar a tua vida.
Vais ao cabeleireiro para pôr uma nova cor no cabelo, vais à loja de desporto comprar uns tops catitas e umas leggings todas fashion para as tuas aulas de yoga e começas a ter consultas de nutrição.
A tua consciência alimentar vai mudando, os teus hábitos vão sendo cada vez mais saudáveis e tu sentes-te bem psicologicamente porque agora tens a certeza de ter adquirido um estilo de vida que se coaduna com os teus desejos.
A par disso, vai crescendo em ti uma vontade de explorar novas ideias, fazer contactos com pessoas aparentemente tão diferentes de ti mas com tanto para ensinar e aprendes coisas que há uns meses nem te passavam pela cabeça!
Descobriste uma nova app de meditação e todos os dias de manhã e à noite fazes a tua conexão contigo e com o universo.
Tens os teus problemas como sempre, o trânsito, o aborrecimento do trabalho, a pessoa de família melindrada que não pára de se queixar mas… estás em alta!
Apesar de todos os contratempos sentes que tudo em ti está aos poucos a mudar. Estás a tornar-te uma melhor pessoa e isso reflecte-se também nas tuas atitudes para com os outros.
Mas um dia ao acordar percebes que qualquer coisa não está bem…estás a
sentir-te angustiada.
Vais tomar o pequeno almoço e não te apetece a panqueca de aveia nem o smoothie de fruta. Atacas o café, pões adoçante (coisa que já tinhas deixado de fazer) e comes um pão com manteiga.
No trabalho sentes-te ausente, cansada, sem ânimo e precisamente naquele dia tens de enfrentar uma pequena guerra com o teu cliente mais complicado. Para descontrair, vais ao café e comes aquele salgado maravilhoso que parece satisfazer-te a alma.
À noite, quando chegas a casa olhas para o teu equipamento de yoga, olhas para o relógio e pensas “já não tenho tempo de me arranjar de forma a chegar a horas” quando na realidade isso significa “não tenho espirito para andar mais depressa, preciso de me esticar no sofá e fazer nada”.
Entretanto a tua mãe telefona a queixar-se do teu irmão e da tia que fez isto e aquilo e da vizinha que fez e aconteceu e tu não estás com a mínima paciência para corresponder a não ser soltando uns grunhidos “ hum, sim, não, hum”.
Antes de te deitares, aquela meditação maravilhosa já não parece tão encantadora, estás cansada e só queres ir dormir.
E depois vem a culpa.
Porque quebraste a rotina perfeita da tua dieta, porque não te sentes a 100% e não tiveste paciência para o teu cliente e para a tua mãe, porque poderias ter ido à aula de yoga recuperar as forças físicas e espirituais e cedeste à preguiça e, finalmente, naquele dia não meditaste!
Não lidaste com todas as situações do teu dia de acordo com o que havias planeado e isso deixa-te desalentada, com a sensação de que “estava tudo a correr tão bem!...”
Começas a pensar tens a obrigação de recomeçar mas... hummm ... já não é a
mesma coisa. O entusiamo já se foi e a motivação precisa de um boost.
Parabéns! Estás num dia “nem sempre zen”.
Repara que isto são situações e sensações correntes. Em princípio, ao longo da tua vida vais tendo altos e baixos. Uns dias são negros como a noite, outros brilhantes como o nascer do sol. Uns dias tens propósito, outro sentes-te distante e perdida.
E ainda assim segues em frente. Porque tem de ser.
Todos nós temos obrigações na vida, mesmo aquelas pessoas que supostamente têm a vida perfeita.
Quem trabalha por conta própria, naquele trabalho de sonho que tu admiras, tem de “ralar” para ter dinheiro para pagar as contas no final do mês - e sim, aquilo que te parece uma vida super fantástica também é um trabalho para a outra pessoa, ela também tem obrigações.
Este é só um exemplo, para dizer que a diferença entre nós e os outros pode
estar apenas na maneira como enfrentamos os desafios diários.
Ter um ou mais dias “nem sempre zen” é normal. Não tens de estar sempre em
alta, aliás, isso nem seria possível.
Catarina Rivera e Helena Marujo, no livro no livro “Positiva-mente” (A Esfera dos Livros, 2011), escrevem que:
“Ninguém consegue (nem deverá conseguir) estar sempre em alta emocional, pois o que é natural no ser humano é que passe pelo alargado leque de experiências emocionais positivas e negativas que a nossa sensibilidade e os acontecimentos de vida nos fazem viver.”
Por isso, descontrai, enfrenta a vida com um sorriso e se te apetecer fazer caretas faz.
No momento imediatamente a seguir a este tens a oportunidade de voltar a fazer tudo direitinho mas desta vez com a sensibilidade de que se falhares continua tudo bem, afinal de contas és humana.
Abraço companheiro,
Patrícia
De que forma este testemunho me pode inspirar?
Será que se aceitasse estes dias menos zen, algo mudaria na minha vida?
Segue a Patrícia: aqui e aqui!